A Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono iniciou a terceira fase de implementação de ações que visam potencializar o financiamento de uma ampla restauração florestal e a geração de diversos benefícios socioeconômicos ao Brasil. A rede recebe agora mais dois agentes: o banco Itaú e estruturadora de projetos de redução de dióxido de carbono (CO2) Systemica, que se juntam a Amaggi, Auren Energia, B3, Bayer, BNDES, CBA, Dow, Itaú, Natura, Rabobank, Raízen, Systemica, Vale, Votorantim, Votorantim Cimentos e, por fim, McKinsey & Company, como coordenadora de conteúdo.

A descarbonização da economia até 2050 é prioridade para diversos países, à medida que milhares de empresas globais definem metas ambiciosas de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Apesar dos esforços, pairam muitas dificuldades em grande parte das organizações alcançarem esses objetivos, assim como uma certa crise de credibilidade nos mecanismos de certificação, após alguns eventos em 2022 e nesse ano.

Para a McKinsey, é nesse cenário que o mercado voluntário pode apoiar na compensação das emissões dentro da jornada de neutralização das emissões líquidas. “Nos debruçamos para entender a perspectiva de compradores, fornecedores, desenvolvedores de projetos, instituições financeiras, entidades jurídicas e de contabilidade, mapeando suas principais dificuldades em comum no processo de conduzir um projeto de crédito de carbono”, comenta o sócio da consultoria, Henrique Ceotto.

Segundo o executivo, foram definidos mecanismos para transpor essas adversidades, a fim de escalar esse ambiente de contratação e aumentar a integridade dos offsets, como são chamadas as toneladas de CO2 compensadas da atmosfera. Para ele, as soluções naturais dos crédito voluntários, além de serem menos custosas do que as tecnológicas, trazem diversos benefícios, como recuperação da biodiversidade, segurança hídrica e desenvolvimento socioeconômico.

Combate ao desmatamento é uma das principais frentes para o Brasil diminuir suas emissões de CO2

“Estamos focados em iniciativas de governança e as que darão mais transparência, confiabilidade e fácil acesso às informações relevantes para o mercado, assim como as que otimizarão processos de diligência, auditoria e financiamento, que atualmente são longos e custosos, visando destravar a oferta de créditos de alta integridade”, complementa.

A Iniciativa foi lançada em julho de 2022, e desde então mapeou as principais jornadas e os pontos sensíveis de toda a cadeia de valor. O passo seguinte foi propor seis mecanismos para destravar o mercado, que foram apresentados na COP 27, a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, e submetidos em consulta pública para serem discutidos com outros atores desse mercado, etapa encerrada em fevereiro deste ano. Agora, as entregas práticas estão previstas para serem implementadas até agosto deste ano, sempre alinhadas aos princípios de integridade de agências internacionais como VCMI e The Integrity Council.

Entre os mecanismos propostos estão a criação de uma entidade independente para coordenar o mercado voluntário de carbono no Brasil; o desenvolvimento de uma plataforma digital que consolidará as principais informações relevantes; um conjunto de dados de referência para agilizar a auditoria para validação dessas informações; soluções financeiras para mitigar desafios no financiamento de projetos; a definição de contratos de referência e por fim a revisão de metodologias, a fim de adaptá-las à realidade do clima tropical brasileiro.

Segundo dados da McKinsey, o potencial do Brasil no mercado de crédito de carbono é um dos maiores do mundo, podendo gerar até 15% da oferta mundial, muito acima de outros países, como Peru (4%) e Estados Unidos (3%). Isso significa que existe um potencial de mercado de até US$ 26 bilhões ao ano (mais de R$ 131 bilhões ao ano), considerando atividades REDD+, agroflorestais e de reflorestamento em áreas de pastagens degradadas.